domingo, 15 de junho de 2008

O homem que fez parte do maior movimento radical de 1968



Todd Gitlin, hoje professor de jornalismo e sociologia da mais importante faculdade de jornalismo dos Estados Unidos. Em 1964 foi presidente do SDS – Student for Democraty Society, um dos movimentos mais radicais da época. Escreveu o livro “Os anos 60 – Anos de Esperança, Dias de Ira” e viveu o ano de 1968 como participante e observador.

Todd deu uma entrevista a Milênio, onde falou sobre a importância do ano de 1968. Ano que foi marcado pelo assassinato de dois importantes políticos: Bob Kennedy e Martin Luther King e por diferentes conflitos dentro da política.

O jornalista diz que naquele ano o sistema político que havia levado os Estados Unidos à guerra do Vietnã estava estremecido e novas forças políticas surgiam, como por exemplo, o Partido Democrata. Surgindo o Partido Democrata, o Partido Comunista passou a ter poucos membros e, dentre esses poucos a maioria era agente do FBI. No jornalismo, poucos eram da antiga esquerda. A esquerda política, os socialistas e comunistas tendiam a ser mais conservadores e uma nova violência estava invadindo o país. Eram os tumultos urbanos. Para ele, o ano de 1968 foi a luta da esquerda entre a direita.

Todd afirma que a polarização havia sido impulsionada pelo movimento dos direitos civis e, diz que esse movimento sem a guerra do Vietnã teria sido bem mais tranqüilo.

O ano de 68 para Todd Gitlin não foi um ano de conflito entre as gerações. Porque segundo ele a geração era a mesma, as pessoas que estavam divididas. E diz ainda, que as guerras culturais são as mesmas daquela época. Mas naquela época teve a erupção de muitos confrontos: brancos entre negros, radicais e os mais direitistas.

sábado, 14 de junho de 2008

Chico Buarque: Um dos mais importantes homens do ano de 1968


Os jovens queriam ter voz ativa e nos seus destinos mandar. Entretanto, naquele ano de 1968, a ditadura não permitiria. Mas eles não entregaram os pontos. Foram para as ruas, reivindicaram seus direitos, enfrentaram os policiais e o CCC – Comando de Caça aos Comunistas. Alguns desses jovens se destacaram. Um deles foi Francisco Buarque de Hollanda, ou melhor, Chico Buarque: músico, dramaturgo e escritor.


Em 1966, Chico Buarque empatou com Geraldo Vandré na disputa do Festival de Música Popular Brasileira, transmitido pela TV Record, com “A Banda”, interpretada por Nara Leão. Mais tarde descobre-se que “A Banda” ganhou o festival. Naquele dia, Chico, ao perceber que ganharia o evento, disse ao presidente da comissão que não aceitaria a derrota da música concorrente, e que se isso acontecesse, entregaria o prêmio na mesma hora para Geraldo Vandré. No ano seguinte, fez sucesso com a canção “Roda Viva”, interpretada por ele e pelo grupo MPB-4. Em 1968, ganhou mais um Festival com a música “Sabiá”, que ele teve como parceiro o músico e compositor Tom Jobim. Foi no III Festival Internacional da Canção, transmitido pela TV Globo. Mesmo vencendo o festival, a platéia preferiu a música concorrente, “Para não dizer que eu não falei das flores”, de Geraldo Vandré.

Entre muitas contribuições de Chico para o cinema, a literatura e o teatro brasileiro, a que mais se destacou foi a peça “Roda Viva”, um texto escrito no ano de 1967 que deu origem à música e à peça de mesmo nome. O espetáculo conta a história de um humilde cantor que decide mudar de nome para agradar o seu público, e passa a se chamar Bem Silver. Chico falou dele mesmo. A peça tinha uma agressividade proposital com o intuito de chocar o público para os problemas que cercavam o país na época. As pessoas que sentavam na primeira fila eram sacudidas pelos atores e, no corredor do teatro, as atrizes disputavam e comiam um fígado cru, que simbolizava o coração de um cantor milionário da TV, que acabara de morrer.

A peça estreou no Rio de Janeiro em 1968, foi dirigida por José Celso Martinez Corrêa e tinha no elenco Marieta Severo, Antônio Pedro e Heleno Pests nos papéis principais. A peça foi um sucesso em sua primeira temporada. Já na segunda temporada a obra virou símbolo de resistência contra a ditadura, e foi invadida pelo CCC, que espancou os artistas, depedrou o cenário e obrigou os novos protagonistas, Marília Pêra e Rodrigo Santiago, andarem pelados pela cidade. Mesmo depois do incidente, a peça voltou a ser encenada, dessa vez em Porto Alegre. Mas os atores voltaram a sofrer violência do CCC e a peça nunca mais voltou a ser encenada.

Entre tantas participações nesse ano de 1968, Chico foi ao Rio de Janeiro, para marchar na "Passeata dos cem mil", que reuniu artistas, intelectuais e estudantes em um protesto contra a ditadura militar. No fim do mesmo ano, após o Ato Constitucional nº 5, Chico Buarque acabou detido em sua própria casa. No Ministério do Exército teve de prestar depoimento explicando sua participação na “Passeata dos cem mil” e sobre a peça “Roda Viva”.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

A criação dos heróis

O monomito criou, entre outras teses, os 12 estágios de um herói. Ela foi inicialmente elaborada pelo autor do livro “O herói de mil faces”, Joseph Campbell. Mais tarde, Christopher Vogler, autor de “A jornada de um escritor”, formulou também outra tese baseada no monomito. Ele mostra como os roteiros dos filmes da Disney, de Hollywood e seriados são criados.

Vimos em sala o primeiro capítulo de dois seriados. O primeiro, Dexter, que nos conta a história de um herói atípico. Ele é um perito que ajuda a polícia a desvendar os casos de assassinatos cometidos por um serial killer. O que os colegas policiais não sabem, é que Dexter é também um desses assassinos. O segundo retrata a série Lost, essa sim, tem um típico herói.

Em Lost, um avião cai na praia e, noacidente, várias pessoas são feridas e ajudadas por Jack, médico e herói do seriado. Entre os passageiros, Jack encontra Kate, que o ajuda e passa a ser sua amiga e parceira. Eles fazem mais uma amigo, Charlie. Somente com essas personagens o autor do seriado já consegue exemplificar grande parte do monomito. Há um herói típico e seu par, que torna-se também sua ajudante para ele conquistar seus objetivos. O protagonista consegue com facilidade ajudantes para auxiliar nos primeiros socorros dos feridos. Há também um “ser” (vilão) que não é identificado. Jack tem características de um herói: coragem, disposição, inteligência e liderança.

No outro seriado, Dexter o herói, tem uma vida dupla. Durante o dia, é um bem-sucedido perito da polícia, onde sua irmã a quem ele defende e ajuda a qualquer custo, é policial. Mas, à noite, torna-se um serial killer. Frio, calculista e perfeito em seus crimes. Tem como um dos objetivos vingar a morte de pessoas inocentes. Durante o episódio, há alguns flashbacks, onde aparece o mentor do herói, seu pai. Ele o ajudou quando era criança e, principalmente na adolescência. Dizia, já que ele não conseguia controlar os impulsos que tinha em relação a assassinar pessoas, teria de executar tais atos para o bem. Como policial, o pai o ensinaria a não deixar rastros em seus crimes.

Em Dexter também há um vilão. Assim como em Lost ele não é identificado. Esse vilão é admirado por Dexter tamanha a perfeição em seus crimes. Sem sangue, sem provas.


quinta-feira, 29 de maio de 2008

1968: O ano em que tudo começou


Zuenir Ventura é o autor de um dos livros que melhor mostram a história do ano em que tudo começou. "1968 - o ano que não terminou" traz os fatos e os personagens mais expressivos daquele ano. O livro começa contado como foi o lendário " Réveillon da casa da Helô", onde os jovens já mostravam uma certa intimidade e liberdade com as drogas e com a sexualidade. Segundo o dono da casa onde aconteceu a festa, Luís Buarque de Hollanda, "réveillon como aquele, só uma vez na vida".

Zuenir conta a história pelo olhar de uma pessoa que participou e observou de perto todos os acontecimentos inclusive a morte de Édson Luís, " o mártir da geração". Ele foi assassinado pelos PMs enquanto jantava com seus companheiros no restaurante mais frequentado pelos estudantes naquela época, o Calabouço.

Talvez não muito imparcial, mas muito verdadeiro, o autor nos conta os principais fatos daquele ano. A nova MPB, com guitarras elétricas de Gil e Caetano, mais conhecida como Tropicália. Na política, a proibição de manifestações, comícios e passeatas. A falta de autoridade do governo, a morte do estudante Édson Luís, " a sexta-feira sangrenta" e a passeatas dos 100 mil.

A morte do estudante foi para o autor o estopim para o início das grandes manifestações. A morte de Édson Luís causou grande comoção popular. Na missa de sétima dia, na igreja da Candelária , todos que assistiam a ela foram supreendidos por uma cavalaria que os empurravam em direção às portas da igreja, que estavam fechadas.

Zuenir conta também pelo que aquela geração lutou: a favor do feminismo, dos anti-concepcionais e da homossexualidade. " Era uma geração que queria virar o mundo do avesso". Geração essa que faziam parte, intelectuais, atores, padres, políticos e estudantes.

Na passeata dos 100 mil, Hélio Pellegrino disse algumas frases que representam bem aquela geração: "Os estudantes não são baderneiros. Os estudantes representam hoje a vanguarda mais limpa e mais corajosa da luta do povo brasileiro contra a opressão do Estado".

Não fica dúvida de que para entender a história do ano de 1968 e do nosso país, ler o livro de Zuenir Ventura é indispensável. Da sua maneira ele conseguiu nos mostrar a história sobre o olhar de quem presenciou e participou ativamente daquele ano.

Dilemas: O jornalista deve publicar uma reportagem mesmo sabendo que ela pode prejudicar as pessoas?

O que é difícil no jornalismo, onde os profissionais dependem dos acontecimentos e das informações que lhe são passadas para obter uma boa matéria, é conseguir as informações sem subornar ou mentir sobre sua profissão. Os grandes profissionais da comunicação têm seus contatos e conseguem ser eticamente corretos. Já os novos e de má índole sempre vão precisar de maneiras diferentes para conseguir sua matéria de capa.

Omitir sua profissão, ou mostrar ser apenas mais um civil curioso, não é eticamente incorreto. Suborno é eticamente incorreto. E vai contra as leis do país. Um profissional capaz de subornar uma pessoa não merece estar onde está. Ele tem que ser severamente punido. Há maneiras legais e honestas de fazer uma boa matéria, sem precisar mentir ou subornar alguém.

E se o jornalista sabe qua a sua matéria irá prejudicar algumas pessoas, ele deve publicá-la? Se tiver fontes confiáveis e a certeza de que tudo que irá escrever é verdadeiro, deve publicar. Principalmente se a matéria for trazer um bem para a sociedade.

domingo, 18 de maio de 2008

A paixão em estádio de futebol


Hoje acordei com a ansiedade nas alturas. Vou ver o meu time jogar pela primeira vez. E vai ser logo em casa, no Morumbi. Oitavas-de-final da libertadores. São Paulo (BRA) contra o Nacional (URU). O um a zero nos dava a vitória e a chance de disputar as quartas-de-final.

Fui ao estádio na companhia de amigos acostumados a assistir aos jogos do São Paulo. Chegamos no Morumbi três horas antes do jogo começar e já partimos para a festa. Quando entrei no estádio, senti um arrepio. Um lugar imenso, o gramado lindo, arquibancada toda nas cores do time. Arquibancada que já estava bem cheia. Para mim era tudo novo. Cantar abraçado com gente que eu nunca tinha visto, abraçar na hora do gol, compartilhando da mesma felicidade . Tudo era muito surreal.

Quando o time entra em campo, a torcida começa a se manifestar, incentivando-o. Fogos são estourados, luzes nas cores do time são acesas, gritos ensurdecedores e muita alegria estampada no olhar e nos gestos de todos nós, torcedores apaixonados. Desde o momento que pisei no Morumbi, não parei de ficar emocionada. Arrepios, então, perdi a conta. Estar naquele lugar é como uma terapia. Você esquece os problemas, esquece da aula da faculdade no outro dia de manhã ou da reunião super-importante que terá na empresa às 8 horas. Nada disso era lembrado, enquanto aquela vibração tomava conta de mim.

Ensaiamos o grito de gol várias vezes até ele sair. O Imperador, Adriano, acerta a pontaria lá pelos 35 minutos do primeiro tempo. Uma loucura. Vendo pela televisão, não imaginei que pudesse ser tão intenso. No momento do gol, abracei uma pessoa que nunca tinha visto, cantei, comemorei, assoviei e gritei junto com a torcida. Gritei o nome do jogador que marcou o gol e cantei as músicas de comemoração.

Alguns minutos depois, Rogério Ceni, o goleiro e ídolo da torcida, bate uma falta. Por muito pouco, não acerta a pontaria. Mãos vão à cabeça e gritos de " Uhhhhhhh" tomam conta do estádio. O Nacional não fazia gol e a classificação estava na nossa mão, bastava segurar o resultado. Quando achamos que não haveria mais gol, veio a surpresa. Aos 43 minutos do segundo tempo, Dagoberto marca mais um gol para nós. Nem precisa falar que o Morumbi explodiu. Classificação garantida. Agora é só esperar o próximo jogo contra o fluminese, pelas quartas-de-finale, de novo, estarei no estádio. É o meu novo vício.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

O contador de histórias



Shattered Glass é um filme baseado na história do jornalista Stephen Glass, redator da revista mais influente dos Estados Unidos,The New Republic. Stephen era chamado de Steve por seus colegas de trabalho e por seu chefe.

O diretor, Billy Ray, consegue aprensentar muito bem o filme. Primeiro, mostra a importância da revista para a qual Stephen escreve. Depois, apresenta um rapaz jovem e encantador, que tem um bom relacionamento com seus colegas de trabalho e seu editor, Michael Kelly. Mostra também como a imaginação de Stephen funcionava nos locais de suas supostas matérias. O editor é substituído pelo jornalista Chuck Lane e, só após essa troca, as pessoas começam a perceber algo diferente nas ações do jovem repórter.

Nas reuniões de pauta, Stephen contava suas histórias de forma divertida e com muita segurança. Dessa maneira, elas eram facilmente aprovadas. Assim, ele conseguiu autorização para publicar a matéria, "O paraíso dos hackers", sobre a vida de um hacker bem sucedido. Ele jurava que tinha conversado com o hacker e com pessoas que estavam no local. Deu o nome do hotel e do restaurante em que supostamente esteve.

Adam Pennenberg, jornalista de outra revista, tenta entrar em contato com as fontes que Stephen diz ter usado em sua matéria, mas não obtém sucesso. A partir desse momento, Adam e o editor começam a desconfiar da veracidade do artigo. Mais a frente, descobrem que as fontes nunca existiram. Ainda assim, Stephen forja sites, endereços e chega a usar telefones de familiares para que fingissem ser suas fontes. Ele não aguenta a pressão de seu editor e de Adam e confessa nunca ter estado com o hacker. Jurou ter sido enganado por suas fontes.

Mesmo assim, seus colegas de trabalho começam a afrontar Chuck por achar que ele estava "pegando no pé" de Stephen. Tratar mal o editor e defender o colega a qualquer custo apoiando-o diante de suas cenas de lamentações. O estopim acontece quando o editor descobre que um dos telefones que Stephen dizia ser de suas fontes, na verdade, era de seu irmão.

Com desconfiança da matéria ter sido inventada, o editor Chuck Lane suspende Stephen por dois anos. Com o veredito final e a certeza de que Stephen mentia o tempo todo, Chuck o demite.

Stephen foi julgado e hoje escreve livros de ficção. Dos 47 artigos que escreveu, 27 foram inventados. Ele enganou os colegas, leitores e o editor. Mas hoje, trabalha com o que deveria ter trabalhado desde o início de sua carreira: a ficção!